Hanseníase

Bacilo de Hans

A Hanseníase é uma doença negligenciada que afeta milhares de pessoas pelo mundo, sendo causada pelo Micobaterium leprae, também chamado bacilo de Hansen.

Trata-se de uma doença infecciosa de evolução lenta que afeta pele, os nervos periféricos, os olhos e a mucosa nasal e, com isso, tem grande potencial incapacitante.

A transmissão da hanseníase ocorre por gotículas que são expelidas do nariz e da boca durante o contato próximo e frequente com uma pessoa não tratada.

Segundo o Boletim Epidemiológico da Hanseníase 2024, em 2022 foras registrados 174.087 casos novos de hanseníase no mundo, sendo assim, esse número representa uma taxa de detecção de 21,8 casos por 1 milhão de habitantes.

Com relação ao países, cama atenção a Índia, o Brasil e Indonésia que reportaram mais de 10 mil casos novos cada.

Neste tocante, o Brasil permanece em segundo lugar no ranking mundial em números de casos novos.

A Estratégia Global de Hanseníase 2021-2030 traz a aceleração das ações para alcançar o objetivo de zero hanseníase (zero hanseníase, zero incapacidade e zero estigma e discriminação) e faz parte do plano de ação para doenças tropicais negligenciadas (DTNs) 2021-2030.

Hanseníase no Brasil

Os dados demonstram uma redução no número de casos notificados entre os anos 2013 a 2022.

Neste período, foram notificados 316.182 casos de hanseníase no país, demonstrando uma redução de 28,9%.

Há uma observação a ser feita durante os anos pré-pandemia da covid-19 (2013 a 2019) onde houve uma redução de 0,8%. Já no período de 2019 a 2022, a redução foi de 28,4%.

Proporção de casos de hanseníase segundo o modo de entrada – Brasil, 2013 a 2022. Fonte: Boletim epidemiológico Hanseníase, 2024.

Quanto ao método de entrada: 80,6% são “casos novos”; 7,4% “transferências”; 7,0% “outros casos” e 4,7% “recidivas”.

Observa-se uma diminuição de 9,5% na proporção de “casos novos”, saindo de 85,7% em 2013 para 77,6% em 2022.

Em contrapartida, houve um aumento de 75% na proporção de casos por “outros reingressos” (saindo de 5,2% em 2013 para 9,1% em 2022).

As “transferências aumentara em 58%, saindo de 5% e 2013 para 7,9% em 2022. As “recidivas” em 28,2%, saindo de 3,9% em 2013 para 5% em 2022.

Transmissão

O bacilo da hanseníase se propaga pro via respiratória, através de gotículas de saliva expelidas durante a fala, o espirro ou a tosse.

Mas não é qualquer contato, que já se transmite a doença. É necessário contato próximo e frequente ou prolongado com doente não tratado.

A cada dez pessoas que entram em contato com o bacilo, apenas uma desenvolve a doença.

A transmissão não ocorre, como muita pessoas imaginam, por objetos ou por meio da pele.

Sinais e Sintomas

As equipes de saúde, principalmente as que atuam no nível de Atenção Primária à Saúde (APS), devem estar aptas a reconhecer precocemente os sinais e sintomas.

Devem identificar os sinais das reações hansênicas, que podem inclusive estar presentes desde o momento do diagnóstico.

Além disso, as equipes devem realizar corretamente a classificação operacional do caso e indicar o esquema terapêutico adequado.

Os sinais e sintomas da hanseníase são:

  • Manchas ou placas claras, avermelhadas ou escuras na pele, com redução oou perda da sensibilidade térmica, tátil ou dolorosa (dormentes);
  • Ressecamento da pele, perda de pelos nas sobrancelhas e em áreas dormentes com um ou sem redução de sudorese;
  • Nódulos endurecidos, infiltração de lóbulos e/ou de pavilhões auriculares;
  • Congestão nasal, ressecamento, feridas ou perfuração em narinas;
  • Dormência, dor, fisgadas, formigamento ou edema em mãos e pés;
  • Diminuição de força muscular em membros (como mãos e pés) ou pálpebras;
  • Ressecamento, coceira ou sensação de areia nos olhos; piora repentina da visão.

Classificação Operacional da Hanseníase

Após o diagnóstico os casos de hanseníase devem ser classificados para fins de tratamento, de acordo com os critérios definidos pelo Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo a OMS, para fins de tratamento, os doentes são classificados em Paucibacilares (PB) e Multibacilares (MB).

Paucibacilares (PB)

Caracteriza-se pela presença de uma a cinco lesões cutâneas e baciloscopia obrigatoriamente negativa.

Multibacilares (MB)

Caracteriza-se pela presença de mais de cinco lesões de pele e/ou baciloscopia positiva.

Há um consenso sobre a classificação como MB dos casos de hanseníase que apresentam mais de um nervo periférico comprometido, desde que haja a perda ou diminuição de sensibilidade nos seus respectivos territórios.

É aceitável que casos com comprometimento de um único nervo periférico sejam classificados e tratados como PB, desde que tenham sido avaliados em unidades de saúde.

Formas Clínicas

O reconhecimento das formas clínicas é de grande valor para as equipes de saúde, pois auxilia na identificação dos sinais e sintomas ligados a cada forma da doença e na correlação dos aspectos dermatológicos, neurológicos, imunológicos e baciloscópicos, bem como dos seus mecanismos patogênicos subjacentes.

A partir dos estudos de Rabello (1936), que descreveram pela primeira vez que a doença se manifesta em um aspecto contínuo, de acordo com a intensidade da resposta imune do indivíduo à infecção.

Essas ideias deram origem à Classificação de Madri (1953), que se baseia nos achados do exame físico e dos exames complementares, mas que o critério básico é o clínico, abrangendo a morfologia das lesões cutâneas e as manifestações neurológicas.

Assim, existem dois polos estáveis e opostos da doença (forma tuberculoide e virchowiana) , formas clínicas interpolares e instáveis (hanseníase dimorfa) e uma forma inicial que apresenta discreta manifestações clínicas da doença (forma indeterminada).

Hanseníase Tuberculoide

Ocorre em indivíduos com forte resposta da imunidade celular específica, evoluindo,
por isso, com multiplicação bacilar limitada e não detectável pela baciloscopia do
esfregaço intradérmico.

Geralmente o paciente apresenta lesão única e bem delimitada, ocasionada por comprometimento restrito da pele e nervos.

A resposta inflamatória é intensa, com presença de granulomas tuberculóides na derme e acentuado comprometimento dos filetes nervosos. Isso se traduz em hipoestesia ou anetesia nas leões dermatológicas (térmica, tátil e dolorosa).

As leões são placas com bordas nítidas, elevadas, geralmente eritematosa e micropapulosas, que surgem como lesões únicas ou em pequeno número.

Hanseníase tuberculoide – fonte: PCDT Hanseníase 2022

Hanseníase virchowiana

Nessa forma clínica, as manifestações cutâneas e neurológicas e a baciloscopia apresentam características totalmente contrárias às da forma tuberculoide, ocupando o polo oposto no espectro clínico da hanseníase.

Ela ocorre em indivíduos que não ativam adequadamente a imunidade celular específica contra o M. leprae, evoluindo com intensa multiplicação dos bacilos, que são facilmente detectáveis tanto na baciloscopia como na biópsia cutânea.

Embora haja a ativação da imunidade humoral, os anticorpos não são capazes de impedir o aumento progressivo da carga bacilar e a infiltração difusa, especialmente, da pele e dos nervos periféricos, além de linfonodos, fígado, baço, testículos e medula óssea.

O comprometimento cutâneo pode ser silencioso, com a progressiva infiltração
sobretudo da face, com acentuação dos sulcos cutâneos, perda dos pelos dos cílios e
supercílios (madarose), congestão nasal e aumento dos pavilhões auriculares.

Ocorre infiltração difusa das mãos e pés, com perda da conformação usual dos dedos, que assumem aspecto “salsichoide”. Com a evolução da doença não tratada, surgem múltiplas pápulas e nódulos cutâneos, assintomáticos e de consistência firme (hansenomas), geralmente com coloração acastanhada ou ferruginosa.

Hanseníase virchowiana – fonte PCDT Hanseníase 2022.

Hanseníase Dimorfa

No espectro clínico e baciloscópio da doença, essa forma situa-se entre os polos tuberculoide e virchowiana, apresentando características imunológicas mistas e sinais intermediários em relação às descrições anteriores.

As lesões cutâneas aparecem em número variável, acometendo geralmente diversas áreas, e apresentam grande variabilidade clínica, como manchas e placas hipocrômicas, acastanhadas ou violáceas, com predomínio do aspecto infiltrativo.

As lesões mais típicas da hanseníase dimorfa são denominadas “lesões foveolares”,
que apresentam bordos internos bem definidos, delimitando uma área central de pele
aparentemente poupada, enquanto os bordos externos são espraiados, infiltrados e
imprecisos. Nessas lesões, a sensibilidade e as funções autonômicas da pele podem
estar comprometidas de forma mais discreta.

Hanseníase Dimorfa – fonte: PCDT Hanseníase 2022.

Hanseníase Indeterminada

Forma inicial da doença, surgindo com manifestações discretas e menos perceptíveis.

Suas manifestações clínicas não se relacionam à resposta imune específica, caracterizando-se por manchas na pele, em pequeno número, mais claras que a pele ao redor (hipocrômicas), sem qualquer alteração do relevo nem da textura da pele.

O comprometimento sensitivo é discreto, geralmente com hipoestesia térmica apenas, mais raramente, há diminuição da sensibilidade dolorosa, enquanto a sensibilidade tátil é preservada.

Essa forma clínica pode inicialmente manifestar-se por distúrbios da sensibilidade, sem alterações da cor da pele.

Hanseníase Indeterminada – fonte: PCDT Hanseníase 2022.

Referências:

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Hanseníase [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2022.
  • BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico: Hanseníase 2024. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Ministério da Saúde. Número Especial. 22. jan. 2024.
  • CEARÁ. Secretaria de Saúde. Hanseníase: guia prático para profissionais de saúde da atenção primária.

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