A exposição de jalecos em locais públicos ou de circulação de pessoas representa risco para a saúde pública, uma vez que espalham micro-organismos.
Jalecos
Os jalecos são utilizados para a proteção do profissional e do paciente. É uma ferramenta que é utilizada para evitar contaminações, tanto do profissional, como do paciente.
Utilizar o jaleco é mais do que uma simples identificação do profissional, trata-se de um auxílio, que muita vezes podem trazer riscos se não utilizados de forma correta.
A história do jaleco
Alguns indício apontam que o uso do jaleco ocorreu no final da Idade Média, com a epidemia da peste bubônica que assola toda a Europa da época.
Seria uma forma de proteção para os profissionais da saúde que lidavam diretamente com os pacientes acometidos pela peste -doença altamente contagiosa da época.
Assim, a concepção de proteção requeria uma roupa que cobrisse a maior parte da superfície do corpo e dessa forma, as roupas de tecido escuro era acompanhadas por outros acessórios como chapéu, luvas, máscaras e um protetor para o nariz.
Com o advento das novas descobertas sobre a contaminação, no final do século XIX, o jaleco passou a ser utilizado na cor branca, demonstrando assim, a necessidade de assepsia nos procedimentos cirúrgicos, pois já se sabia que muitas pessoas morreram por contaminação no período.
A influência de Semmelweis
Semmelweis (1818 -1865) foi um médico húngaro muito reconhecido e protagonista na obrigatoriedade do uso de jaleco. Em seus estudos no tratamento de mulheres que apresentavam febre puerperal observou que muitas mulheres morriam em partos que não apresentavam complicação.
Dessa forma percebeu que se as mulheres apresentavam complicações em ambiente hospitalar, o que não acontecia quando o parto era realizado em casa pelas parteiras.
Chegou a fazer indagações em suas anotações sobre possíveis teorias para a causa da epidemia da febre puerperal. Uma das mais importante é:
Dezembro de 1846. Por que é que tantas mulheres morrem com esta febre, depois de partos sem quaisquer problemas? Durante séculos, a ciência disse-nos que se trata de uma epidemia invisível que mata as mães. As causas podem ser a alteração do ar, alguma influência extraterrestre, ou algum movimento da própria Terra, como um tremor de terra. [1]
Ao acontecer a morte de seu amigo também por febre, após acidente com o mesmo bisturi que dissecava cadáveres, Semmelweis percebeu que a doença poderia ser transmitida pelo contato.
Com isso, acabou propondo que entre um e outro procedimento médico fosse realizado a lavagem das mãos. Essa medida tomada reduziu o número de mortes.
Mais tarde, sua atitude de obrigatoriedade na lavagem das mãos levaria à sua expulsão do hospital e da cidade de Viena e logo depois a sua internação em um hospital psiquiátrico.
Surgimento da cor branca
Em alguns quadros do final do século XIX, os médicos já aparecem de branco, como podemos observar na imagem do quadro de Loius Lhermiet em 1889 que pintou o famoso fisiologista francês Claude Bernard e sua equipe.
EPI ou não?
Na NR6, a mais citada quando o assunto é Equipamentos de Proteção Individuais (EPI), não há uma especificação que jalecos sejam considerados como EPI’s.
Na lista de EPI onde se trata de proteção do tronco, não apresenta uma especificação sobre profissionais de saúde e chama atenção apenas para “vestimentas de segurança que ofereçam proteção ao tronco”.
Embora não haja uma especificação, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), na Norma Regulamentadora 6 (NR 6), da Portaria nº 3.214, considera-se Equipamento de Proteção Individual – EPI, como todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. [4]
Assim, as roupas que se destinam à proteção, incluindo os jalecos, deem ser utilizadas em todas as atividades em que se manipulem agentes de risco e que possam comprometer a saúde e a integridade física do trabalhador.
Portanto, o uso do jaleco – considerado EPI – torna-se necessário para a proteção do paciente e profissional e são recomendações gerais para a sua confecção:
- Devem ser confeccionados em materiais que sejam compatíveis com os agentes de risco;
- Devem possuir mangas longas, que cubras todo o braço;
- O dorso deve também ser coberto pelo jaleco;
- E deve ter comprimento acima do joelho.
Estudos
Alguns estudos realizados no Brasil apontaram que os jalecos são potenciais reservatórios para a transmissão de microrganismos envolvidos nas infecções.
Um estudo da Pontifícia Universidade católica (PUC-SP) apontou que havia bactérias presentes em 95,8% dos jalecos médicos analisados. Uma das bactérias mais encontrada foi Staphilococcus aureus.
Em outra pesquisa realizada pelo Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) demonstrou que algumas bactérias se mantém até dois meses no jaleco e pelo menos 90% delas resistem no tecido por 12 horas.
Como lavar o jaleco?
- O primeiro cuidado com o jaleco é lavá-lo diariamente, pois assim estaríamos nos protegendo contra as bactérias;
- Utilizar hipoclorito de sódio 1% e água à temperatura ambiente. Nunca misturar hipoclorito com água fervendo. Caso haja coloração utilize apenas água fervendo;
- Deixar de molho no hipoclorito de 30 minutos a 60 minutos (processo chamado de umectação).
- Seguir com a lavagem normal, separado de outras roupas para evitar contágios.
- Deixar secar bem ao sol;
- Passá-lo com temperatura condizente com o tipo de tecido e logo após guardá-lo em saco plastico;
- OBS.: Nunca utilize-o se estiver molhado, pois assim não serve como objeto de barreira;
Dica: quanto mais tempo ficar em contato com o hipoclorito, mais rápido as fibras do tecido se estragarão, ficando amareladas. Para que não ocorra isso, devem ser utilizadas 1 parte de hipoclorito 1% para cada 6 partes de água.
Outro produto utilizado e indicado quando se tem jaleco de cor é o Percarbonato de sódio ou perborato.
Para esses casos, deixá-lo de molho em água fervente ou morna por 30 minutos com o produto e depois promover a lavagem normal, separada das demais roupas.
Como transportar o jaleco?
O jaleco deve ser transportado em saco plástico, sem contato com objetos de uso pessoal ou mesmo de alimentos.
Na hora de retirá-lo, retire sempre pelo avesso, guardando-o em saco plástico e pelo avesso. Não permita o contato com objetos e alimentos.
Com isso, outro cuidado que devemos ter é não misturá-lo com outro jaleco limpo e nunca transportá-lo em cabides sem proteção, pois podem levar mais sujeira para seu ambiente de trabalho.
Fontes:
- https://jalecovida.wordpress.com/historia-do-jaleco/
- http://www.myartprints.com/a/lhermite-leon-augustin/the-lesson-of-claude-bern.html
- http://www.archhealthinvestigation.com.br/ArcHI/article/view/42/47
- http://www.fiocruz.br/biosseguranca/ctbio/docs/jaleco2.pdf